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quarta-feira, 1 de março de 2017

"Mãe, tenho dói dói..."

A minha filha Clara não está bem. Quem me conhece sabe que nem entro em pânico com doenças, mas há situações que fazem os meus alertas dispararem.
Acabámos de jantar. A C sai da mesa e corre a brincar com a irmã. Eu estava distraída a falar com o pai. Mas de repente oiço um barulho. Virei-me e parei a observar. A C está com dificuldade em respirar. Vejo as mãos dela subirem ao peito e o olhar em busca do meu: "mãe, estou com dói dói aqui". O meu coração pára, o meu sangue gela, acho que deixo de respirar. Naquele momento estou fora do meu corpo, numa existência estranha, que não existe para além daquele filho!
Peço ajuda ao marido que não entende logo a minha preocupação. "Dá-lhe água! Tira-lhe a camisola! Vê-lhe a boca". E parece melhorar um pouco... mas ela não está bem!
Telefono ao pediatra que me tranquiliza relatando todas as possibilidades perigosas e o quão diferentes são da situação em que estamos.
"Mãe, vamos ao 'opital? Eu quero!", "Não querida. O médico disse que apenas precisas de descansar"

Deitamo-la e pouco depois ela adormece. Mas o meu coração não acalma. Já a ouvi chorar e corri para ver. O meu instinto diz-me que devo estar de vigia. Porém, o meu corpo não colabora e a cada investida minha, ameaça-me com contrações. Ser mãe é viver fora de nós. É superar os nossos limites, medos e limitações. E quanto mais filhos temos mais o nosso coração multiplica e se divide, e mais longe vive a alma...
Esta noite será mais uma com uma cria nos braços.

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