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terça-feira, 7 de março de 2017

A operação da Maria

Este post poderá ser para algumas pessoas enfadonho, mas vou escrevê-lo para pessoas como eu, que tiveram todas as dúvidas do mundo em relação a este tipo de procedimento.

A M foi operada aos (dois) ouvidos, e aos adenóides. No início do verão passado fizemos um audiograma e timpanograma que indicaram alterações significativas face aos referenciais de normalidade. Foi vista por um otorrino e a recomendação foi muita praia e medicação. Repetimos os exames no final de Setembro e os valores anormais mantiveram-se. Marquei consulta para o "nosso" otorrino, no qual tenho absoluta confiança. É o Dr Carlos Ruah, e provavelmente por ser tão afamado, marcar consulta para ele é quase pior que marcar com o Sr Presidente... conseguimos para Novembro, bem no fim. O pai foi à consulta e quando o médico viu os exames e observou a M, disse com a maior convicção  que "esta criança tem que ser operada já!". Uma das coisas que eu gosto neste médico é que ele não é nada alarmista e não é o tipo de médico que opera a torto e a direito. Portanto, se ele disse que tinha que ser já, para mim, não havia margem para dúvidas. Ficou combinado que o meu marido lá fosse falar com ele para marcarem tudo em Janeiro, altura em que ela já deveria ter feito um conjunto de análises. Aqui já vos contei... esperei, esperei, mas o má rido tardou a arranjar disponibilidade para lá ir. Então decidi levá-la comigo quando fiz os meus exames do 2º trimestre. A partir daí foi bastante rápido. Marcaram para hoje por conveniência de ambas as partes.
As recomendações começaram por jejum a partir da meia noite de ontem. Uma sra enfermeira que ligou ontem ao serão sugeriu que a acordássemos por volta das 23h30 para lhe darmos alguma coisa para comer e beber. O jejum implica não beber também. Ás 8h já deveria estar na recepção do hospital para dar entrada no internamento. Mais uma vez a enfermeira sugeriu que a levássemos ainda de pijama enrolada numa manta, com o seu objecto de conforto (ainda o ó-ó e a xuxu) e uma boneca. Assim fizemos. Tratada da papelada, e antes das 9h já a M estava instalada no seu quarto, com um pijama do hospital. Esteve praticamente todo o tempo no hospital ao colo do pai... Por volta das 9h30 deram-lhe um xarope, com o intuito de a fazer adormecer. Apesar da resistência (habitual) ao sono, ainda não eram 10h e já a M estava a dormir a caminho do bloco. Só depois de a terem a dormir é que lhe canalizaram a veia e lhe deram a anestesia. A operação dura cerca de 40 minutos, mas bem sei que já tinha passado mais de 1h quando voltei a ter notícias. Tinha corrido tudo bem ("mais do que bem" pelas palavras do médico), com pouca perda de sangue. Nesta altura o médico deu as recomendações todas e respondeu às nossas questões.
O pai pôde ir então para o recobro onde ficou a aguardar que ela acordasse. Tínhamos ouvido muitos relatos de acordares agitados e descontrolados, e estávamos preparados para o pior. Incrivelmente não foi nada disso que aconteceu com ela: ela foi tendo vários despertares meio em transe, num perguntou por mim, noutro disse que queria ir para casa, mas sempre sempre bastante calma. Acordava e voltava a adormecer. Foi assim nas primeiras horas. Quando finalmente conseguiu ter os olhos abertos mais do que 2, 3 minutos, trouxeram-lhe iced tea para beber aos goles. Esta parte é importante porque segundo nos explicaram há crianças que "vomitam a anestesia". Mas correu tudo bem. Houve alguma insistência com o primeiro xixi. E depois foram trazendo iogurtes líquidos e no fim, um gelado. Uma parte bastante chata foi terem dito que a alta deveria ocorrer pelas 16h, se não houvessem complicações, mas na verdade surgiram um conjunto de atrasos e desencontros, arrastando a saída para depois das 18h. Foi difícil gerir esta ansiedade, toldada de desespero e angústia.
O momento em que a vi entrar em casa, em que a pude ter nos braços, cheirar e beijar, foi provavelmente o momento mais compensador dos últimos tempos. Senti um alívio, uma felicidade, quase um renascimento. Assim permanecemos durante bastante tempo, agarradinhas. Depois ela pediu para jantar e comeu sopa (não ácida, fria), gelatina e papa cerelac fria. Comeu o que quis, na quantidade que quis, e depois voltou-se a deitar aninhada.
Agora dorme na caminha dela, sossegada. Demos benuron para evitar qualquer dor.
Amanhã será outro dia... por enquanto as recomendações é que seja tudo calmo, sem esforços ou grandes abanares da cabeça. Terá que ficar dentro de casa, sem apanhar calor até sábado. Só aí poderá sair mas sem fazer qualquer esforço. Escola só para os fins da próxima semana, na melhor das hipóteses, e exercício só lá para Abril. A comida vai manter-se fria e mole, podendo amanhã já comer coisas como purê e peixe cozido. Banho também só amanhã, e (estranhamente!) a recomendação foi de o fazer sem tampões ou fitas a tapar, porque segundo o médico "para o banho não é preciso porque as orelhas são pequenas..."
A consulta do pós-operatório será de amanhã a oito dias. Até lá teremos que estar atentos a hemorragias consideráveis quer dos ouvidos quer do nariz, e de qualquer outro corrimento dos ouvidos.
Algumas pessoas perguntam-me se a M teve muitas otites, mas não! Em 4 anos teve 2 otites: umas aos 3 meses de vida, e outra o ano passado. Tem sim algumas falhas na fala, na dicção e pronúncia de várias palavras.

E pronto, achei importante deixar estas palavras, porque confesso que as gostaria de ter lido antes da operação.
Agora vou descansar porque física e emocionalmente, parece que me passou um camião por cima...

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