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terça-feira, 17 de março de 2015

O castigo, a palmada, o HORROR!!!

Este é provavelmente um dos assuntos mais controversos da maternidade. A forma como cada um educa o seu filho, parece um inverso do ditado "A galinha da vizinha...". Não deixa de ser curioso que num mundo cheio de incertezas e ansiedades, andemos a cuspir ao mundo que a forma como educamos os nossos filhos é a melhor de todas!
Já tenho discutido e argumentado muito este assunto. Tenho lido e ouvido. Oiço tanto as teorias da "avozinha" como as de disciplina positiva e consciente. Sou como o "boneco pincel", adoro-as a todas!
Em tempos li um artigo sobre a nossa actual incapacidade de ouvirmos o nosso instinto. Sobre como sobrepomos as teorias e opiniões alheias àquilo que sentimos ser o correcto! O acesso à informação já e agora, trouxe-nos a capacidade de conhecer mais e melhor, mas a tristeza de duvidarmos de nós (ou nem sequer ouvirmos)...
Se tenho aprendido alguma coisa com a maternidade é que nem o mundo é preto e branco, nem uns são os maus e os outros os bons! Em geral andamos todos ao mesmo, a tentar fazer o melhor, não o melhor que sabemos, mas sim o melhor que conseguimos. Ora, aqui reside a diferença que gostava de falar neste post! Não o que sabemos, mas o que conseguimos.
Quando engravidamos, ou antes mesmo, criamos na nossa cabeça um sem número de imagens idílicas, de mães perfeitas, bebés perfeitos, famílias perfeitas, onde todas as peças se encaixam numa foto digna de moldura. Como legenda destes momentos também elaboramos a lista dos "SEMPRE" e dos "JAMAIS"! Sinceramente não sei qual delas é que começa a ruir primeiro, mas esse é outro post... Mesmo sem darmos conta, criamos a imagem da mãe que queremos ser para os nossos filhos. E aqui começam os nossos problemas...
Vou passar à frente da gravidez, parto e dos bebés pequenos. Vou pousar no momento em que temos que começar a EDUCAR! O momento em que o nosso filhinho lindo se atira para o chão do shopping a fazer uma birra descomunal, que nos deixa no mínimo envergonhados; o momento em que o nosso mais que tudo olha para nós nos olhos e com um sorriso delicioso atira o tablet pelos ares, ou despeja a taça com o jantar por si abaixo... É neste momento, neste instante, em que as coisas se começam a definir! Existem pais para todos os gostos! Os da "porrada" ("Levou logo uma lambada que esta gracinha já não volta a fazer!"); os "positivos" ("O meu filho está a passar por uma frustração ou mesmo uma nova experiência. Nada de reprimendas ou qualquer tipo de violência. Vamos conversar todos calmamente e aprender a controlar as nossas emoções ou rir do momento divertido"); os "descarta responsabilidades" ("Quando o teu pai chegar, vou-lhe contar e ele vai-te castigar"), entre muitos muitos outros... Eu prefiro pensar que dentro das possibilidades também existem os pais "normais". Os pais normais são aqueles que não têm uma resposta directa sobre a acção a tomar num momento destes. Em vez disso, eles dirão: Depende! Mas do quê, senhores, do quê? É páhh!! De tudo! De quantas horas dormiram, de quantos chatos tiveram que aturar durante o dia, da quantidade de "momentos" que antecederam este, e até do tempo que faz lá fora. Resumindo, depende do nosso estado de espírito. Também prefiro acreditar que esses pais "normais" não vêem na berraria, no castigo, ou mesmo na nalgada (i.e. palmada no rabo) a sua forma preferencial e mais frequente de educar (ou punir, se preferirem). Mas também não posso acreditar que esses pais "normais" julguem, critiquem, punam os outros que, num momento de maior desgaste (não gosto mesmo da palavra descontrolo) ou falta de paciência recorram a algum destes métodos para tentar meter a criança "nos eixos".
Tenho ouvido o seguinte comentário: "Se castigar fosse bom, não haveriam tantas mães a sentirem-se mal com isso". Pois, eu tenho uma visão um pouco diferente sobre o assunto. Se não houvesse tanta teoria e (tentativa de) moralismo alheio, haveriam certamente muito menos mães a terem que frequentar a terapia para se livrarem da culpa. Sim, da culpa. Voltamos outra vez ao mesmo. E a culpa não é por terem batido ou gritado, a culpa é por terem assassinado a mãe idílica, aquela que aplica apenas as mais altas e conceituadas teorias, aquela que nunca se cansa, nunca teve um dia mau, nunca tem falta de paciência, a mãe zen, presente e omnipotente! A visão da mãe varia de mulher para mulher, mas ela existe sempre! É quando fazemos algo contra esta imagem, que ficamos destruídas! A nossa imagem de mãe é baseada em tantas outras mães perfeitas. Se elas conseguem ser perfeitas, como fomos capazes que tomar uma atitude menos própria??
Para piorar um pouco, todas nós conseguimos arranjar sempre, pelo menos uma amiga, daquelas que nos consegue repreender, sem sequer precisar de falar. Consegue espezinhar a nossa condição de mãe com boa conduta e isso só faz aumentar o nosso sentimento de culpa. A critica de uma mulher agride-nos de uma forma violenta, mas acredito que a nossa própria sensação de imperfeição nos agrida muito mais.
Há muito a dizer sobre isto, muito mesmo! A minha postura em relação aos castigos e afins, vai um pouco ao encontro do falado no blog dos pais de quatro. Mas confesso que passei por períodos difíceis de reconciliação comigo mesma, até ter a capacidade de ajustar os padrões com que me regia e essencialmente, ser honesta.

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