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quarta-feira, 3 de maio de 2017

O tal parto surreal

Bem, este post é só para quem gosta de ler estas coisas, mas de facto recebi alguns pedidos para detalhar o que chamei de "meu parto surreal".
Então, basicamente acordei na 5ª passada sem sintomas de maior. Tinha médico à tarde e estava convencida a falar com o médico sobre um possível toque ou mesmo indução na semana seguinte. Estava longe de imaginar o que se iria passar, mas coincidência ou não, antes de sair de casa disse ao marido para pôr as malas no carro, porque devíamos ser os únicos grávidos sem malas no carro...
Antes da consulta fomos almoçar ao Mc de Paço de Arcos, com direito a sundae a caminhar na praia. Tudo calmo...
De seguida corremos para a consulta. Primeiro o CTG. Pela primeira vez na minha vida a risca de contrações vinha sem qualquer alteração (embora eu tenha contado 3 irregulares). O médico nem queria acreditar. Perguntou-me se queria que me fizesse o toque, mas achámos melhor observar e só depois tomar decisões. Por isso fiquei pasma quando ele me disse que eu estava prestes a entrar em trabalho de parto. Tinha o colo apagado e permeável a 2 dedos. E ainda decidiu que não me ia fazer mais nada. Mandou-me dar uma volta a pé e voltar passado hora e meia. Não acreditei nem um pouco naquilo, achei mesmo que ele estava a exagerar, até porque nem sequer tinha grandes contrações. Fui ao El Corte, fui buscar as meninas e regressei à hora combinada. Algumas contrações irregulares, mas nada de especial. Qual não foi o meu espanto quando ele me diz que já tinha passado para 3 dedos e que já nem me deixava sequer ir a casa: era directa para o hospital que ele já iria lá ter. Ainda tentei argumentar, mas de nada me valeu.
Eram 19h20 quando entrei no hospital sozinha, depois de me ter despedido das meninas e do marido. Fui até às urgências e pedi internamento. Esperei pelas burocracias de confirmação e deviam ser umas 20h quando me chamaram para avaliação. O médico de serviço, muito à pressa, observou e disse: "3 dedos. Isto vai ser canja, mas agora tenho que ir embora. Ligue ao seu médico a dizer o que eu disse" (?!?). Assim o fiz e continuei à espera do tal internamento, sempre a fazer "piscinas" pelo corredor. Entretanto chegou a minha doula e ao conversar com ela percebi que já estava com contrações regulares, mas nem me dei ao trabalho de cronometrar... eram muito suportáveis, nada de especial.
Às 20h30 volto a ser chamada por outra médica para observação. Só que não, porque recusei! Tinha sido observada há pouco tempo e por isso não vi necessidade. A Dra não devia estar à espera, pediu desculpa e disse que como não havia registo não sabia que já tinha sido observada. Lá registou os dados todos e pude finalmente ir para o quarto.
Às 21h cheguei ao quarto. Só nessa altura é que as coisas animaram. Chegou a enfermeira e as contrações intensificaram. Consegui a custo, no pouco tempo de intervalo, dizer-lhe que não queria soro, que queria a bola, que não queria ficar deitada, que queria comer, e que queria poder ir ao duche. Foram precisos alguns minutos para isto tudo... Entretanto, às 21h15 aparece o meu médico que confirma os meus pedidos e me faz nova observação: 5 dedos!! Porém, o CTG não marcava contrações de intensidade superior a 40... Achei curioso a facilidade com que se "esquece" a mulher para focar no que nos diz uma máquina. Tive que reforçar que a máquina podia dizer o que quisesse, mas que as contrações estavam muito acima dessa intensidade, com um espaçamento de 1 minuto (se tanto)... Face ao contexto o médico achou que talvez não fosse boa ideia ir até casa jantar e ausentou-se para ir ao bar.
Desde essa altura eu já não me mexi mais. De pé, agarrada à cama, experimentei nos minutos seguintes dores de uma intensidade difícil de descrever, dores cujo intervalo rapidamente deixou de existir, que mal dava para respirar. Lembro-me do cheiro a lavanda que a minha querida doula ofereceu ao quarto e que foi o meu único alívio. Às 21h27 pedi para avisarem o meu marido para vir até ao hospital porque não sabia quanto tempo iria demorar. Sei que momentos depois atingi o limite, quebrei o meu silencio exterior, olhei nos olhos da doula e exigi a epidural! Eu sempre disse que iria fazer tudo para parir sem epidural, mas naquele limite não conseguia mais! Ela percebeu! Correu a chamar a enfermeira. E foi tudo muito rápido. "Sra enfermeira, estou a fazer força"
Gerou-se o pânico! "Não! Espere! Tem que se deitar, tenho que a observar...", a custo deitei-me para observação. Resultado: "está em expulsivo!!! Rápido!! Não faça forçaaaa!"
Senti levarem-me na cama do quarto, de forma desgovernada, sob gritos da enfermeira e outras que se foram juntando. Gritei! "O bebé está a nascer" Há coisas que não se controlam e o "respire e não faça força" eram palavras demasiado distantes e impossíveis. Senti pararmos no corredor no momento em que a cabeça no meu bebé deu à luz. Ainda não tínhamos chegado... mais gritos, mais confusão! Chegámos ao bloco e percebi que deviam estar umas 10 pessoas, entre médicos e enfermeiros que se foram juntando. E finalmente o meu médico. "Dr como a vamos passar para a maca?", "não vamos! Vou acabar o parto aqui". Assim o fez. Permitiu-me virar e ajudar o resto do meu bebe a nascer. E de repente alguém se lembra de perguntar: "a que horas nasceu o bebé?". Ninguém sabia ao certo... Eram 21h50 e eu já namorava o meu bebé. Ficou registado às 21h45 como "parto precipitado".

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