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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Quando os filhos são mais nossos...

 Engane-se quem pense que isto são queixinhas ou tira-teimas. É um desabafo, como outros tantos que às vezes me povoam o coração...
Tenho tido os miúdos doentes... à vez! Não seria já mau o suficiente, e fica um (razoavelmente) bom, entrego na escola e em troca fica outro em casa. Já lá vão duas semanas. Não pedi baixa. Não tenho avós nem padrinhos. Sou eu e o meu marido, e meia resma de filhos.
A exclusividade dos dias tem se juntado às agitadas e mal dormidas noites. Ando de rastos. E também já tenho o pingo no nariz. Passo o dia entre mimos, mama, colo, termómetros e medicamentos. Mas à parte disto, ainda decido (e faço) o jantar, faço as compras, os trabalhos de Natal para a escola, lavo a roupa e arrumo a casa. Faço estas e muitas outras coisas.
Quando mais um dia chega ao fim, e me vejo a adormecer crianças sinto que não tenho capacidade sequer para aguentar acordada até que adormeçam. É aqui também que às vezes percebo que já nem me lembro quando fiz o último xixi, ou se sequer tive tempo para lavar os dentes hoje. Também me lembro que fiquei de responder àquele e-mail tão importante e decisivo, que ainda não enviei o relatório cuja deadline era a semana passada, e que tenho pessoas à espera de respostas minhas. Enterro a cabeça na almofada e tento não chorar. Tento também usar a racionalidade, respirar fundo, perdoar-me. Mas à medida que os dias passam a minha tolerância à ausência de auto-cuidado começa a esgotar-se...  Dou por mim aborrecida, zangada, frustrada. Triste! Sei que quando não estou para mim, não estou para ninguém. Os meus beijinhos saem secos e sem sabor, porque sinto um vazio dentro de mim.
Mas somos dois. Peço ao meu marido para organizar a vida dele por forma a me render algum dia, alguma vez, talvez uma hora. Não sempre, claro! Não um dia inteiro, claro! Mas se ao menos eu conseguisse fazer alguma coisa que me fizesse sentir menos perdida, se pudesse organizar-me. Provavelmente não precisaria mais do que 1 hora de vez em quando.
Só que a altura é complicada. Ele tem muito que fazer. Enumera-me todas as suas dificuldades e compromissos inadiáveis. Pergunta-me se não dá mesmo para os meter na escola. Lembra-me que ontem já perdeu tempo de trabalho porque teve que ir ao pediatra, ou estendeu a roupa, ou teve que ir comprar uma prenda de natal.
De facto... Tomara que o trabalho dele fosse mais como o meu, que os dias dele fossem mais como os meus, que os compromissos dele fossem de importância reduzida como os meus, que o ordenado não fosse afinal exactamente igual ao meu...
E sinto que tudo isto é extraordinariamente estúpido. Que lutam por igualdade quando é dentro de casa, na cabeça de cada um que ainda reina o maior diferencial. Só quando todos acreditarem piamente que o dever de aqui estar é igual em género, e que em circunstância alguma, os compromissos dele, sejam quais forem!, são mais importantes que os meus. E já agora, se não for pedir demais, só quando entenderem que tempo para as mulheres não inclui o que já fizeram pela casa, pelos filhos, ou por eles próprios...

No fundo, tomara que os nossos filhos fossem tão dele como meus...

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