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quarta-feira, 22 de junho de 2016

A M é condicional

A M nasceu em Outubro, logo é condicional, o que significa que faz parte daquelas crianças que em Setembro de cada ano lectivo nunca têm a idade de entrada na sala, por uma questão de meses. E depois duas coisas podem acontecer: ou se pede autorização para uma entrada precoce, ou se adia a entrada para quando a criança já tiver a idade "correcta". Mas neste post vou concentrar-me especificamente na entrada para o 1º ciclo.
Infelizmente, na minha opinião, o que tenho visto nos pais com crianças condicionais é muita pressa. Os pais são muito apressados. Querem que os filhos entrem mais cedo na escola, sejam os mais novos  (e precoces). Têm medo que eles fiquem um ano "atrasados", ou que percam alguma coisa...
Bem, tenho lido bastante sobre isto. Tenho falado com muitos profissionais de saúde e de educação, e observo bastante as crianças que me rodeiam (que são bastantes). O que concluo é que dificilmente alguma criança condicional beneficia realmente com a entrada antecipada na escola. Não há nada que justifique submeter uma criança de 5 anos às regras e exigências do 1º ciclo.
Ao contrário do que algumas pessoas pensam (ou nem sequer pensam...) as crianças precisam de brincar. Muito! É através da brincadeira que elas vão desenvolver as melhores competências para o seu sucesso no futuro. A brincadeira permite ainda que elas ganhem maturidade emocional e social, que pode fazer (faz mesmo!) a diferença para a formação de um adulto equilibrado.
As crianças não atingem a maturidade nas várias vertentes ao mesmo tempo. Há aquelas que parecem muito "desenvolvidas" a nível cognitivo, mas que não sabem de todo lidar com a frustração, ou lidar com a pressão e o erro. Há também aquelas que têm uma enorme capacidade de lidar com as adversidades ao seu redor, que lidam bem com o erro, que têm uma excelente auto-estima, mas que ainda não conseguem permanecer concentradas e quietas por longos períodos de tempo. E ainda há aquelas que até parecem ter isto tudo (parecem!), mas que depois não conseguem atingir os objectivos pretendidos de forma eficiente, quando comparados com os outros alunos. Hiperactividade, défice de atenção, mau comportamento, mau desempenho, crianças inseguras e deprimidas, entre outros tantos diagnósticos podem pura e simplesmente ser fruto de uma tentativa de antecipar o que jamais deveria ter sido antecipado.
Agora, paremos por um bocadinho para pensar no que sentem estas crianças. O que sentirá uma criança que não consegue atingir os objectivos como os outros? Uma criança que não se sente capaz de responder às solicitações e espectativas? Uma criança que não consegue lidar com toda a pressão e exigências que lhe colocam? Que efeitos terá tudo isto na sua auto-estima, na construção da sua pessoa, no seu percurso académico?
Claro que não é garantido que esperar um ano resolva todas estas questões. Mas seguramente poderá ajudar bastantes! E mais, já há estudos que defendem que a generalidade dos rapazes só atinge a maturidade necessária para o 1º ciclo aos 7 anos. Sim, aos 7 anos!!! Então para quê? Para quê antecipar? Qual a vantagem que têm com isso? Será tudo uma questão de ego?
Isto é como tudo na maternidade... Tentar forçar uma competência que o bebé ainda não consegue assimilar, não só não traz vantagens como pode trazer ainda maiores atrasos e problemas.
Mas porque é que os pais têm assim tanta pressa? Porquê? Sinceramente não entendo, porque depois só os ouço a queixar que passou tudo muito rápido e têm saudades das fases que já passaram... Não faz sentido nenhum! Deixem as crianças ser crianças. Elas vão ter todo o tempo de mundo para mostrarem que são competentes, cada uma à sua maneira, cada uma no seu tempo. Então porque antecipar? Do que é que os pais têm medo afinal?
Posto tudo isto, hoje tive uma reunião com a educadora da M. A M vai passar este ano para os 4 anos. Mas ela tem 3... Para mim nunca é demasiado cedo para falar do futuro das minhas filhas, por isso hoje disse à educadora que não quero que a M entre no 1º ciclo com 5 anos. Mas pelas mesmas razões também não quero que a M entre na preparação do 1º ciclo (conhecida por pré, ou 5 anos) com 4 anos. Na sala dos 5 as crianças são preparadas para o que aí vem: "aprendem" as letras, a estar sentadas, ensaiam trabalhos, leitura e escrita. Eu não quero! Eu quero que a M brinque. Todas as crianças com 4 e 5 anos deviam ser obrigadas a brincar. E também não quero que ela sinta que ficou para trás, que ao contrário das outras crianças, ela não é finalista. Por isso, hoje disse à educadora que quero que a M fique dois anos nos 4 anos. Estou em paz com a minha decisão. Acho que tomei uma decisão que vai seguramente fazer a diferença na vida da M, que lhe vai dar tempo para crescer, feliz! Porque no fundo, o que todos os pais deveriam querer para os seus filhos, é isso, que sejam "apenas" muito felizes!

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