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sábado, 24 de setembro de 2016

Fui contar aos sogros

Hoje tiramos um dia do nosso precioso fim de semana para ir até aos sogros contar-lhes a novidade. Confesso que era algo que temia e não me apetecia nada. Revi na minha cabeça várias cenas possíveis, e nenhuma tinha uma desfecho agradável. Acho até que o meu estado de espírito já vinha meio toldado e mesmo que dissessem apenas "Parabéns!" eu talvez fosse passar-me com o tom de voz...
Mas pronto, facilitaram-me a vida e deram-me mesmo razões para me chatear. Previsível... A minha sogra lançou de imediato uma prece ao Nosso Senhor! Fez um ar de desespero e "não quero acreditar em tamanha desgraça". Não consegui evitar e reagi levando as mãos a tapar os olhos. Voltou a ter a mesma reacção. Será apenas esta a família que vê as novas crianças como desgraças??
Mas enfim, tentei recuperar e perguntei "mas do que é que tem medo?" Sinceramente não sei para que é que fiz esta pergunta, eu já sabia a resposta. A minha sogra apontou para a minha filha C e disse "tenho medo que venha como a nossa menina, com problemas..."
Pronto, acabou-se qualquer réstia de simpatia no resto do meu dia. É muito mau! Consegui que me saísse "está com medo de lhe passar algum mau gene? Como o estrabismo do pai?" Uma mãe ferida que tenta ferir outra mãe. Não há palavras! Talvez devesse ter mais empatia com a senhora, talvez devesse perceber que ela tem medo, e iluminar-lhe a mente. Talvez numa próxima vida. Nesta não consigo!
As pessoas rotulam porque se teve um filho com diferença. Como se aqueles pais fossem maus, indignos de voltarem a procriar porque foram destinados a gerar crianças com defeito. Ou pior, não têm qualidade suficiente para gerar crianças perfeitas! Mente ignorante! Mente pequena. Maiores são os defeitos das mentes pequenas e esses até parecem passar despercebidos à primeira vista, mas causam mossas bem maiores.
Que fique claro, mas bem claro, que os meus filhos são perfeitos, mesmo nas suas diferenças! E que no que depender de mim vão ser bem maiores que estas cabeças...
Mas infelizmente não ficou por aqui, o meu sogro em tom de gozo perguntou "então e vai querer outra meninas?". A minha sogra respondeu primeiro "ai não, agora que seja um rapaz. Mas eu nunca quis saber. Qualquer coisa era boa desde que viesse com saúde". A minha capacidade já estava muito diminuta, ainda assim respondi "se eu pudesse decidir vinha com saúde, mas seria uma menina. Não escondo a minha preferência. Seria demasiado cinismo da minha parte dar uma resposta pomposa que não corresponde à verdade". Esta conversa não ficou por aqui, mas sobre ela falo depois, noutro post...
Não me apetece falar mais sobre isto. Digamos que não fiquei muito animada. Acho que um simples parabéns (que nem isso tive direito) teria chegado...

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